quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O fenômeno dos autores independentes

A nova tendência da literatura nacional
Foto: Anny Lucard
 Faz algumas décadas, com o aumento nas publicações de vários gêneros, especialmente com a entrada cada vez maior de mulheres no mercado editorial(antes lugar praticamente exclusivo de homens) que alguns conceitos começam a ser revistos e uma tendência surgiu, os autores independentes. Esse nicho de mercado, nos últimos anos, começou a despertar o interesse de leitores e a chamar a atenção de editoras tradicionais.Nas edições anteriores da Bienal do Livro do Rio de Janeiro e também na de São Paulo, o aumento gradativo das publicações independentes mostram que não são uma moda temporária. Desde a década passada, aqui no Brasil, vários autores nacionais agora conhecidos pelos leitores, afirmam que começaram com publicações independentes. É o caso de Giulia Moon, autora da série de literatura fantástica, ´Kaori´, que iniciou a carreira de escritora como contista, ao publicar a coletânea ´Luar de Vampiros´ por conta própria. Hoje os exemplares do livro são procurados como artigo raro por fãs.Vivianne Fair, autora dos romances, contos e quadrinhos de ´A Caçadora´ e ´O Caçado´, explica que dificilmente editoras dão oportunidade para os novos escritores, principalmente quem não é famoso, pois não querem se arriscar. “Infelizmente os autores independentes tem que investir no livro e ele acaba saindo caro, coisa que não acontece com editoras que podem diminuir o preço”, explica. “É muito difícil competir com livros baratos e famosos.” A autora também lamenta que muitos ainda pensem que não conseguir uma editora tradicional significa que o livro é ruim. “É triste isso, porque já li livros independentes que são maravilhosos.”

            Tanto é verdade que os bons autores independentes começam a ser aceitos em editoras tradicionais, que investem nos novos talentos nacionais, como é o caso da Editora Draco, chefiada por Erick Santos Cardoso. O editor revela que uma das missões da Draco é a busca por autores com o talento de Vivianne Fair, a qual terá sua trilogia ´A Caçadora´ relançada pela editora. “São pessoas que têm histórias para contar, mas ou não tiveram oportunidade em um selo tradicional, ou preferiram bancar diretamente essa primeira publicação”, explica.

E como divulgar as publicações independentes?

A autora e também desenhista, Vivianne Fair, comenta sobre uma outra tendência que surgiu junto com os autores independentes e que atualmente ajuda não só na divulgação dos mesmos, mas no incentivo à leitura e apoio aos autores nacionais, os blogs literários. No entanto, além da ajuda de vários blogueiros e de seu próprio blog, que virou o site oficial de divulgação de suas histórias, a autora também produz vários produtos inspirados em suas criações. “Ajuda em minha divulgação ao mesmo tempo em que amo demais ilustrar e criar produtos diversos com as histórias”, comenta.O escritor e consultor em publicações, Marcelo Paschoalin, fala que ser um autor independente tem algumas vantagens, como o maior controle de sua produção literária. Porém, isso resulta num desgaste maior, pois o controle significa também que não ficará só com a parte de escrever e autografar. Tem que saber o que quer e encarar a jornada, porque o trabalho solitário não é para qualquer um. “Tenho os contatos necessários para produzir um livro de qualidade.A decisão de seguir sozinho, depois de colocados os custos no papel, tornou-se a mais adequada”, revela. 


Quanto à questão de não ter a aprovação de uma editora tradicional, em relação a qualidade editorial do trabalho, Marcelo Paschoalin destaca o fato de diariamente chegarem originais em diversas editoras. “Cada editora possui um limite de publicações que pode fazer no ano, muitas vezes por razões puramente financeiras,” explica. “Muitos originais são descartados sem serem sequer lidos, não há um julgamento da ´qualidade literária´, mas da possibilidade de investimento editorial.”  Na opinião de Marcelo Paschoalin, além do bom texto, o sucesso dos autores independentes, depende de conhecimento do mercado e de contatos. “Não é à toa que vemos histórias de grandes best-sellers que foram rejeitados dúzias de vezes antes de serem publicados e se tornarem sucessos de público.” O autor também destaca que ainda acredita que o leitor compre um livro pelo marketing investido na publicação. E só então o conteúdo é avaliado. “É uma questão simples: se o leitor não sabe que o livro existe, não comprará.” 

Feiras literárias ainda são um bom investimento


No Brasil, feiras literárias e bienais do livro passaram a ser vistas como uma das formas mais eficazes dos leitores conhecerem as publicações de autores independentes, os quais conseguem uma divulgação um pouco mais equilibrada de suas obras, em relação aos títulos de editoras tradicionais. “Uma vez que o leitor pode ter contato com todas as obras, independentes ou não, o selo editorial deixa de ter o peso que tinha: o conteúdo se torna o principal fator”, comenta Marcelo Paschoalin.

O investimento de participar de um evento literário é grande, mas atualmente tanto autores como as editoras, que antes se limitavam a ter os livros divulgados em uma ou outra feira/bienal, buscam participar de vários, como é o caso do livro das autoras Roberta Spindler e Oriana Comesanha, ´Contos de Meigan´ que, após divulgação na 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que aconteceu em agosto, estará na XVI Feira Pan-Amazônica do Livro de Belém no Pará, que acontece em setembro. O editor Erick Santos Cardoso também confirma a tendência ao expor as publicações impressas da Draco, que também publica eBooks, junto aos parceiros na bienal paulista. “As feiras são exposições, locais para mostrarmos o nosso trabalho a quem não nos conhece ou receber quem nos procura”, comenta.

A ideia que não há uma ditadura em relação ao livro bom, precisar de um selo de editora tradicional, é só um dos novos conceitos que surgiram “leitor que queira narrativas mais envolventes e livros de melhor qualidade permite que nós, autores, cresçamos e tenhamos de nos adaptar a isso. O ofício de um escritor é também um aprendizado constante”, conclui Marcelo Paschoalin.

Matéria original do Jornal O Estado RJ - Cultura:




Texto original:
http://oestadorj.com.br/?pg=noticia&id=10595&editoria=Cultura&tipoEditoria

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