quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A polêmica literatura erótica


sexo

A polêmica literatura erótica

Saiba mais sobre os motivos que levam escritores a publicarem um estilo sempre tão atacado

O natal de 2012 foi um dos mais “hot” em anos, sem se referir ao clima quente do verão brasileiro, e sim pelos vários livros eróticos publicados no ano, dos quais muitos foram parar em árvores natalinas. Esse fenômento ocorreu pela última vez em 1992, quando o erótico estava em foco por causa do lançamento do álbum com livro ‘Erotica’ da Madonna, assim como a adaptação mais sensual para o cinema do livro ‘Drácula’ de Bram Stoker.

Para ser considerado desse gênero não importa o tipo de texto, podendo incluir histórias apenas eróticas, como é o caso do bestseller ’50 Tons de Cinza’ de E.L. James ou textos de gêneros variados, mas que possuem erotismo, como várias publicações nacionais de literatura fantástica lançadas durante o ano que passou.

Um dos livros lançados entre os novos autores nacionais que inclui erotismo a seu texto é ‘Immortales’ da Roxane Norris, onde há a construção de uma sociedade sobrenatural que segue regras de condutas de antigas sociedades humanas, misturadas a natureza sobrenatural dos personagens e a assuntos complexo para os humanos, como sexo e relações sociais/familiares.

Outra autora que também enriquece seu texto sobrenatural ao incluir erotismo junto aos fatos históricos e da atualidade é Giulia Moon, que em sua série de livro Kaori, se inspira na cultura japonesa. Mesclando os seus lascivos vampiros e seres sobrenaturais a realidade humana, do presente e passado,a autora foge dos padrões vistos em lendas europeias.

Falar ou não de sexo sempre é uma questão polêmica

Sobre o assunto a autora Gisele D´Angelo comenta que “ainda existe a desinformação e falta de incentivo a leitura”. A falta de  hábito de ler torna as pessoas limitadas a um tipo de texto e muitas vezes, é a pouca informação que causa a estranheza a certos livros e não se são bons ou ruins.

Além disso, a autora, que também é naturopata(terapeuta que usa essencialmente métodos naturais), revela que usa as metáforas nas quais construiu a trama de seu livro, para ajudar em seu trabalho junto aos pacientes. Ao falar sobre assuntos abordados na história, como a sexualidade, ela percebeu que todos ficavam mais relaxados e até empolgados para continuar o “papo”.

O livro foi a maneira que encontrou de manter uma conexão com os pacientes e inspirar as pessoas a se olharem mais, “percebendo que há outras maneiras de se abordar os mais diversos temas e situações”,comenta Gisele.

Segundo os autores, não é porque o texto tem sexo que seja ruim, ou que seja bom por estar a frente do seu tempo ao introduzir um assunto polêmico. Ao escrever algo, o autor tem que entender que será visualizado na mente de quem lê e cada um verá a situação de uma forma. O mesmo assunto será diferenciando em relação ao gosto do leitor, conhecimento geral e até se for um homem ou uma mulher.

Críticas virão, até porque há os que gostam de textos mais explícitos, geralmente território masculino, e outros dos que buscam nas metáforas dar beleza ao ato sexual, território mais feminino. No entanto, o autor Nelson Magrini destaca que “há de se tomar cuidado para não se justificar qualquer crítica (negativa) sob tal aspecto, afinal, tem hora que a obra é criticada por não ser boa mesmo”.

A questão do que é uma obra boa ou ruim nos dias atuais está cada vez mais complexa, pois boa parte das pessoas com maior conhecimento literário, se limitam a repetir o que foi ensinado. Não levam  em conta as mudanças ocorridas nas últimas décadas, em especial no Brasil, e a falta de atualização da grade curricular de muitos cursos.

Novas obras, mesmos críticos 

Profissionais que estudam a fundo textos clássicos, mas não se especializam na nova literatura, não terão condições de analisar devidamente uma obra atual que não está nos padrões da literatura tradicional.
O autor teatral William Shakespeare nunca seria parte da literatura clássica, se não tivesse a aceitação quanto as mudanças que os textos de suas peças causariam. Por isso não faz sentindo manter os padrões de décadas atrás, especialmente quanto às últimas ocorreu a inclusão da mulher de forma mais concreta e numerosa na literatura mundial.

A autora Nazarethe Fonseca, criadora da sensual série sobre vampiros ‘Alma e Sangue’, condena a visão crítica que buscar nivelar textos, pois “a formação de cada indivíduo, de um escritor, de um artista é singular.” Outra coisa evidente é a questão dos autores terem liberdade de expressão de acordo com o sexo. Dividindo a literatura em “o que homem pode e mulher não”, imediatamente julgando e condenando autoras que não sigam o padrão.

“É justamente isso que a critica faz, tentar nivela à escrita. Temos dois mil anos de evolução, e com eles castigos e criticas cruéis para proibir e reduzir a criação e comportamento feminino a status de bruxaria, imoralidade, ofensa aos costumes e qualquer outra coisa que contribua para que a mulher continuasse ocupando um papel menor na história,” lamenta Nazarethe Fonseca.

Roxane Norris fala que as autoras não tem que reproduzir pensamentos masculinos e acredita que é justamente por ter uma visão diferente, e feminina, as autoras estão ganhando espaço.

O problema é que muitos críticos relutam a mudança e continuam mantendo os padrões estabelecidos em tempos onde a mulher era proibidas de escrever, o que dirá criar estilo dentro de um terreno até então só masculino, como o erótico. Giulia Moon comenta um fato curioso sobre a literatura no Japão, mencionando a série de romances ‘Genji Monogatari’, escrito por uma aristocrata da corte do Imperador, Murasaki Shikibu.

“Foi escrito no início do século XI, e seus personagens, à maneira da época, eram extremamente sensuais. É considerado um clássico de importância comparável à obra de Shakespeare para os japoneses”, revela.
“Talvez por ter nascido da mente feminina, mais observadora e detalhista, seus personagens têm muita consistência, as personalidades são descritas de forma precisa e as suas atitudes são coerentes e tão reais que os seus problemas e dilemas ainda hoje atraem o público”, completa Giulia.

Vampiros também amam

No Brasil, uma das editoras visionárias ao pensar em contos eróticos foi a Giz
Editorial, que ainda em 2008, lançou a antologia ‘Amor Vampiro’ com 7 autores, grupo composto de homens e mulheres. “A ideia surgiu num bate papo informal com três autores durante um evento”, informa a editora da Giz, Simone Mateus.

No início seria apenas uma publicação de contos eróticos de vampiros, mas no decorrer dos trabalhos foi decidido que outros autores seriam convidados e foi ampliada a liberdade para escrever sobre como o vampiro ama, se é que ama, o que a tornou o livro bem equilibrada e interessante. Onde há uma abordagem de facetas variadas do amor dos vampiros, assim como a inclusão de dose de sensualidade e erotismo diferenciada.

A ideia gerou uma das antologias mais vendidas e conhecidas entre os fãs de literatura fantástica e vampiresca nacional, graças a qual a série Kaori surgiu, pois a Giz apostou na vampira do conto de Giulia Moon, uma das autoras participantes, que hoje já conta com 3 livros publicados.

Também participa da antologia o autor Nelson Magrini, contando a história de sua sensual vampira Isabella. Quando questionado sobre seus textos, se todos possuem carga erótica o autor revela que “em termos de erotismo, foi uma experiência única, junto ou não à Literatura Fantástica”
“Contudo, nada me impede de voltar ao erotismo algum dia,” confidenciando que possui um projeto em andamento que poderá ser classificado como erótico. A autora Simone O. Marques também usa de sensualidade para apimentar sua trama ao tornar, em seu vampiresco livro ‘Agridoce’, cada mordida é uma analogia perfeita ao ato sexual. Já que escreve sobre bruxas e vampiros, afirma que o erotismo é parte intrínseca das narrativas.

“Tanto vampiros quanto bruxas trazem o erotismo para junto da pele dos seres comuns. Eles trazem em sua construção a superação de tabus, medos e limitações que a sociedades, ao longo da História, impõem às pessoas, para controlá-las,” comenta. “O erotismo está presente em meus livros e o trato como um movimento natural”, finaliza Simone.


Matéria original do Jornal O Estado RJ - Cultura:
www.oestadorj.com.br


Texto original:
http://www.oestadorj.com.br/cultura/a-polemica-literatura-erotica/

domingo, 6 de janeiro de 2013

Histórias de fim do mundo


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Histórias de fim do mundo

Conheça o fascinante mundo da literatura apocalíptica

Histórias sobre o fim do mundo sempre fizeram parte do imaginário humano, seja em lendas antigas e mitologias, até a criação da pura ficção apocalíptica, onde autores viajam na ideia do mundo um dia deixar de existir. A maioria nesse meio é de autores de literatura fantástica, onde os apocalipses zumbis e vampirescos são os favoritos em suas histórias, mas o tema é farto e há para todos os gostos. Após a passagem do ano 2000, que muitos achavam que seria o fim de tudo, por conta de algumas crenças religiosas, uma nova data foi agendada para o apocalipse, 21 de dezembro de 2012, que é o dia que o ciclo do calendário Maia termina e outro começa.

Passado o apocalipse, enquanto os adeptos a ideia de fim do mundo pensam em nova data, o assunto para os autores de literatura fantástica continua rendendo ótimas histórias. Só esse ano vários livros com o tema foram publicados, entre eles está ’2012 – Uma Aventura No Fim Do Mundo’ da autora Vanessa Bosso e ‘ As Crônicas do Fim do Mundo – A Noite Maldita’ do autor André Vianco.

Também foram publicadas várias coletâneas de contos apocalípticos, como a antologia ’2013 – Ano Um’. No entanto, muito antes de 2012 chegar a Editora Andross publicava sua antologia apocalíptica ‘Dias Contados’, que atualmente tem 3 volumes.

Organizando o fim do mundo

Inspiração para destruir o mundo não parece faltar entre os autores, mas a motivação de editoras e organizadores em continuar a publicar histórias do gênero é diferente.   Do ponto de vista de editoras e organizadores de antologia, o fascínio pelo tema também implica em várias questões e o debate é necessário. Um dos organizadores do volume 1 de ‘Dias Contados’, escritor e professor Danny Marks, falou que no início questionou o parceiro na organização, Ricardo Delfin, sobre a possibilidade de ampliar a perspectiva para o fim do mundo.

“Chegamos a um consenso que o melhor seria dar a liberdade de um final subjetivo, além da possibilidade de um final objetivo. A ideia era brincar com o que seria um fim de mundo para uma mãe, um adolescente, para a humanidade, para um relacionamento,” revelou Danny Marks. “Muitas vezes o mundo como conhecemos termina, uma tragédia pessoal, mas para as outras pessoas nada aconteceu.” A ideia do livro partiu do escritor e editor da Andross, Edson Rossatto, que convidou Ricardo Delfin e Danny Marks para o projeto. Já a ideia de tratar o fim do mundo não apenas como a destruição do planeta, mas também de forma metafórica, para ter uma variedade maior de contos, foi algo idealizado pelos organizadores.

Ricardo Delfin fala da busca por diversidade para o livro, “se tivéssemos optado pela destruição literal, teríamos limitado a criatividade dos autores e a possibilidade de histórias”. Já a ideia para a antologia ’2013 – Ano Um’, organizada por Daniel Borba junto com a editora da Ornitorrinco, Alícia Azevedo, que também é escritora, surgiu num bate-papo.“A ideia partiu dela”, revela Daniel Borba. Ambos pensavam na possibilidade de organizar uma antologia de ficção científica juntos que, em vez de mostrar o fim do mundo, cheio de catástrofes, invasões alienígenas ou guerras globais, teria a ideia do recomeço de tudo. Mudando o foco e deixando a causa do fim do mundo de lado, apresentando apenas o “pós-apocalipse”.

Além do ponto de vista diferente, mesmo com um tema em comum, as antologias também contam com uma boa variedade de autores e estilos, seja porque a ’2013 – Ano Um’ conte com autores convidados somados a alguns jovens talentos, escolhido através de concurso, ou o fato da ‘Dias Contados’ ter apenas autores selecionados por concurso.

A forma como uma coletâneas de contos é organizada pode variar, mas o objetivo da publicação sempre visa ter uma boa variação para alcançar um público maior e não a minoria habitual de leitores. Variação de gêneros e estilos é importante, pois há quem goste das clássicas histórias trágicas de fim do mundo, mas também há vários leitores que buscam as histórias com heróis, que diante do fim, vão conseguir impedir a destruição de tudo.  As mentes dos autores são uma Caixa de Pandora, como é o caso da autora Ana Lúcia Merege, que revela ter gostado do resultado da antologia ’2013 – Ano Um’, livro onde tem um conto. Porém a experiência a inspirou e atualmente aceitou o convite para ser uma das organizadoras da antologia pós-apocalíptica ‘Meu Amor é um Sobrevivente’, que faz parte da coleção Amores Proibidos da Editora Draco.

“Achei uma grande sacada, pois o imaginário dos leitores esteve e ainda está bem focado nos temas apocalipse e distopia, a partir das discussões em torno do fim do mundo maia, livros como ‘Jogos Vorazes’, séries sobre zumbis…”, comenta Ana. “Além de tudo discute-se muito o futuro do planeta, as possíveis catástrofes que viriam do aquecimento global… Tenho certeza de que haverá muitos interessados em ler histórias ambientadas nesse tipo de cenário.”

Quando questionada como surgiu a ideia do conto para o livro ’2013 – Ano Um’, onde é uma das convidadas pelos organizadores Alicia Azevedo e Daniel Borba, a autora fala que logo de cara resolveu desenvolver uma ideia sobre uma comunidade isolada. Sobre o conto de Ana Lúcia Merege, Daniel Borba comenta que a autora “apresenta uma sociedade com os mesmos problemas, mostrando que o ser humano é sempre o ser humano”.Os principais critérios para a escolha foram a qualidade literária e a adequação ao tema”, revela Ricardo Delfin. “Líamos todos os contos recebidos e trocávamos pareceres.

Alguns autores eram bem novos na escrita, então analisávamos também o potencial dos autores e suas histórias. Quando necessário, trabalhávamos em parceria com um autor para que pudesse explorar melhor seu potencial, sempre respeitando a ideia original. “Não queríamos apenas um conto que se ajustasse ao tema e ao formato exigido, era preciso que fosse o melhor que o autor pudesse oferecer”, completa Danny Marks.

Independente do tema parecido, editores, organizadores e autores sempre buscam algo diferente para destacar seus livros. Ana Lúcia Merege fala que apesar do tema pós-apocalipse,  o foco de ‘Meu Amor é um Sobrevivente’ são histórias românticas. “A ideia é mostrar que mesmo em meio à catástrofe, ao desespero e a condições muito adversas o amor pode florescer. Enfim, cada autor trabalhou a catástrofe de maneira diferente,” conclui Daniel Borba.

Matéria original do Jornal O Estado RJ - Cultura:
www.oestadorj.com.br


Texto original:
http://www.oestadorj.com.br/cultura/historias-de-fim-do-mundo/